quinta-feira, 5 de maio de 2011

Purê de abóbora David

Confesso que abóbora não é lá muito a minha praia. Sem motivo. Apenas não considero abóbora e pronto. Cresci ouvindo a piada do paulista luxento a quem, na casa do mineirinho, é oferecido um prato de comida, com abóbora. Pedante, ele recusa: "- Na minha terra, abóbora nós damos aos porcos!" E o dono da casa rebate, no mesmo diapasão: "- Aqui também!"

Convenhamos que não é nenhum incentivo para criança experimentar algo diferente, não é? E se eu acrescentar o caso acontecido com meu pai, que o recontava sempre que havia 'ameaça' de abóbora à mesa?

Ele havia ido atender um fazendeiro importante da região. Estava havendo uma espécie de festa e ele foi convidado. Não conhecia ninguém e estava meio deslocado. Aí se aproximou dele a dona da casa com uma imensa tigela de compota de abóbora e lhe serviu uma generosa porção. Ficou com aquilo ali, enrolando, fingindo que estava prestando atenção à conversa mas, de repente, derramou o conteúdo do prato no bolso do paletó e continuou fazendo 'cara de paisagem'.

A anfitriã passou novamente por ele e querendo agradar o "moço do Ministério" que havia "gostado tanto do seu doce predileto", lascou-lhe outra montanha de compota no prato. O suor começou a porejar-lhe nas frontes, pois o doce anterior também já estava vazando do bolso. Notou uma enorme janela com as bandeiras abertas para dentro e, num hábil movimento de pulso, jogou, por cima do ombro, o conteúdo do prato pela janela: - Plo-ploft! Foi o que se ouviu, pois as vidraças estavam imaculadamente limpas, mas fechadas. E agora três grandes cubos de compota de abóbora escorriam por ela, hipnotizando todos os comensais, que não podiam olhar para outra coisa. Meus amigos, tenho que dizer que ficou ruim até para a Gata Borralheira!

Acho que já deu pra ver a razão de abóbora não entrar na minha dieta, não? Mas é a tal história. Eu sempre insisti com meus filhos e sobrinhos que, antes de dizer que não gostam de uma coisa, devem prová-la. E porque eu não fazia o mesmo? Pura falta de atenção. Como disse, nunca considerei abóbora. Estar ali no setor de legumes do supermercado ou não estar, para mim, sempre foi indiferente.

Dia desses, porém, resolvi mudar essa situação. Questão de honra! Quando fui fazer minhas compras, incluí uma pequena abóbora paulista no carrinho. Estava bonita, estava barata... Chegando em casa, comecei a pensar no que fazer com ela. Decidi-me por um purê. Coisa fácil de fazer e fácil de comer. Vamos a ele, portanto. Ah! Antes da receita, como os nomes das coisas variam muito de um lugar para o outro, abóbora paulista, como estava escrito na tabuleta do mercado, é essa da foto abaixo. Aquela pescoçuda.

INGREDIENTES:

  • uma abóbora paulista de cerca de 1 Kg
  • um enorme dente de alho
  • 150 g de queijo gorgonzola
  • azeite de oliva q.b.
  • sal, pimenta, ervas a gosto
MODO DE PREPARAR:

Descasque, limpe, pique e cozinhe a abóbora no vapor. Ainda quente, passe para o processador e bata, junto com o alho e o queijo, até virar uma pasta lisa. Pode usar também queijo parmesão. É que eu tinha um pedaço de gorgonzola rolando pela geladeira há um tempo, e resolvi aproveitá-lo.

Enquanto bate, adicione azeite de oliva da melhor qualidade possível, até que a textura do purê fique do seu agrado. Ajuste o sal, acrescente pimenta, se gostar, e perfume com alguma erva. Eu usei estragão seco e decorei com manjericão anão. E como gosto de alho, coloquei bastante.

Acho que sou insuspeito para dizer que nem o gato come. É que não sobra! Meu almoço de hoje foi um bom filé grelhado, molho de tomate bem pedaçudo e este purê. Acompanhei com um Carménère Doña Dominga Reserva e nem me lembrava se já fui pobre algum dia. O meu velho aprovaria, pois como ele mesmo dizia, "com queijo gorgonzola e vinho do Porto, até merda eu como"!